Josias do Amaral – Engenheiro agrônomo e coordenador de projetos agrícolas da Labor Rural.
A cacauicultura moderna enfrenta desafios que vão além da produtividade – é preciso atender a exigências sociais, ambientais e de qualidade. Nesse cenário, as certificações agrícolas têm assumido um papel central, ao garantirem que a produção de cacau seja realizada por meio de boas práticas que respeitam a legislação, promovem a rastreabilidade e combatem problemas como o trabalho infantil e o desmatamento.
As certificações não só demonstram o compromisso dos produtores e da indústria com a sustentabilidade, mas também agregam valor ao produto. Ao adotar sistemas de certificação, os produtores se beneficiam de treinamentos, acesso a tecnologias digitais de monitoramento e práticas inovadoras que potencializam a saúde do solo, a redução de pragas e o aumento da produtividade a médio e longo prazo. Essa transformação possibilita que o cacau brasileiro se destaque no mercado global, atraindo consumidores cada vez mais conscientes e exigentes quanto à origem e à qualidade do produto.
Além de garantir o cumprimento de normas ambientais e sociais, as certificações funcionam como um diferencial competitivo. Elas fortalecem a relação entre indústria e produtor, criando uma rede de cooperação que permite uma gestão mais eficiente dos recursos, reduz custos com agroquímicos e amplia a renda dos pequenos e médios agricultores. Na prática, a certificação contribui para a transformação da cadeia produtiva, ao estimular práticas sustentáveis.
Iniciativas recentes têm demonstrado que a adoção de práticas sustentáveis está diretamente ligada ao aumento da produtividade e à melhoria da qualidade do cacau. Através de visitas periódicas, a Labor Rural, empresa que tem atuado na implementação de programas de sustentabilidade na cacauicultura, conduz junto aos produtores a implementação de boas práticas agrícolas, melhorando a qualidade do solo, reduzindo a incidência de pragas e aumentando a produtividade a médio e longo prazo (por vezes até com efeito imediato). Este trabalho tem promovido a profissionalização do produtor rural no campo e promovido melhorias na qualidade de vida.
Gráfico 1. Evolução da porcentagem de propriedades cacaueiras capacitadas e orientadas através de consultorias realizadas pela Labor Rural, entre os anos de 2023 e 2024, de acordo com os temas mencionados.
Fonte: Departamento de Inteligência da Labor Rural, 2025.
O Gráfico 1 apresenta a evolução no número de produtores rurais atendidos ao longo dos anos de 2023 (Ano 01) e 2024, com foco nas capacitações e treinamentos oferecidos. Avanços significativos são observados nos temas abordados nas capacitações e orientações, bem como a participação e adesão do público aos projetos de certificação (Gráfico 02). Um destaque especial vai para os treinamentos em poda, atividade essencial no ciclo produtivo do cacau. Atualmente, 90% dos produtores já foram treinados e capacitados nessa prática, recebendo ainda acompanhamento semestral para identificar oportunidades de melhoria contínua nesta operação.
Com base no trabalho de campo realizado com os produtores nos anos de 2023 e 2024, a expectativa para 2025 é um aumento de produtividade de aproximadamente 15%. Estima-se que o volume total de cacau produzido pelos produtores assistidos pela Labor Rural passará de 4.757 toneladas em 2024 para 5.470 toneladas em 2025.
Por meio do acompanhamento dos produtores participantes em programas de certificação, a Labor Rural tem identificado e disseminado práticas de manejo produtivo cruciais para o sucesso da cacauicultura, impulsionando incrementos tanto na produtividade quanto na rentabilidade. Os produtores com os melhores resultados adotam consistentemente a poda e mantêm uma arquitetura de planta otimizada, além de investirem de forma mais eficaz no controle de pragas e doenças. Esses investimentos chegam a ser três vezes maiores em comparação com os produtores menos rentáveis, conforme demonstrado no Gráfico 2.
Gráfico 2. Custo operacional efetivo (R$/hectare) da atividade de controle de pragas e doenças em fazendas cacaueiras no Brasil em 2025.
Fonte: Departamento de Inteligência da Labor Rural, 2025. Amostra com 89 propriedades. Denominadas “fazendas mais rentáveis”, fazendas com maior margem líquida (R$/hectare).
Desde 2022, o número de visitas realizadas pela Labor Rural com foco no desenvolvimento rural de propriedades cacaueiras cresceu 349% desde 2022, como mostra o gráfico a seguir.
Gráfico 2. Número de visitas realizadas em propriedades cacaueiras com foco no desenvolvimento técnico, social e ambiental, nos estados de Rondônia, Pará, Bahia e Espírito Santo.
Fonte: Departamento de Inteligência da Labor Rural, 2025. *Estimativa prevista para o ano de 2025.
Atualmente, é praticamente impossível dissociar os programas de certificação das iniciativas de sustentabilidade. Além de garantir a adoção de boas práticas agrícolas, esses programas asseguram o cumprimento da legislação ambiental e social, tornando-se sinônimos de uma produção mais consciente. Para a indústria, aderir a programas de certificação é uma estratégia essencial para atender às demandas de consumidores cada vez mais exigentes e atentos à origem dos produtos que consomem.
O contato mais próximo com os produtores permite uma compreensão mais detalhada das dificuldades enfrentadas, possibilitando a proposição de soluções mais lógicas e eficazes. Essa abordagem resulta em diversos benefícios, como:
• Aumento da produtividade, essencial para enfrentar os desafios de oferta de cacau em escala global;
• Segurança social, por meio do incremento direto na renda dos produtores e dos impactos econômicos gerados nas regiões produtoras;
• Rastreabilidade, permitindo ao consumidor final conhecer a origem, os métodos e os responsáveis pela produção do cacau presente em seus chocolates.
As certificações agrícolas promovem uma produção consciente e diferenciada, impulsionam a inovação na cadeia produtiva e geram benefícios socioambientais que se refletem na melhoria das condições de vida dos produtores. Ao adotar esses modelos, a cacauicultura não só se alinha às tendências globais de sustentabilidade, mas também se torna um exemplo de transformação e resiliência em um setor fundamental para a economia e a cultura do país.
