A alta do café no Brasil: entre a crise climática e decisões governamentais

Imagem de arquivo

Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 10h45

Última atualização em 15 de maio de 2025 às 16h14

Acompanhe tudo sobre Café, Crise climática e muito mais!

Paula Cristiane Oliveira Braz (*)

O café, uma das maiores riquezas do Brasil, enfrenta desafios preocupantes. O aumento significativo dos preços tem causas complexas, desde fatores climáticos extremos até decisões governamentais que prejudicaram a cadeia produtiva. A análise desses aspectos é fundamental para entender o cenário atual.

A crise climática tem provocado eventos severos nas regiões cafeeiras, especialmente em Minas Gerais e São Paulo, os principais estados produtores. De acordo com a Conab, a safra 2024/25 terá queda de aproximadamente 6,8% devido a secas prolongadas, geadas inesperadas e chuvas irregulares. A escassez hídrica prejudica a formação dos grãos, enquanto as geadas podem danificar de forma irreversível as plantas. A previsão atual aponta para 54,79 milhões de sacas de 60 kg, abaixo das 58,81 milhões esperadas.

Esses eventos climáticos comprometem a produtividade e a qualidade do café, elevando os custos de produção e pressionando os preços ao consumidor final. Além disso, a queda na qualidade dos grãos impacta negativamente a competitividade do café brasileiro no mercado internacional.

Além dos problemas climáticos, o fechamento de 27 armazéns da Conab em 2019, durante o governo anterior, intensificou as dificuldades do setor. Esses armazéns desempenhavam funções estratégicas, como a regulação de estoques, garantia de preços mínimos e suporte logístico para pequenos e médios produtores. Eles também eram importantes no combate à fome e na mitigação de crises ambientais.

Com a desativação dessa estrutura, o mercado cafeeiro perdeu um importante mecanismo de equilíbrio. Para se ter uma ideia, em 2013, o Brasil possuía 944 mil toneladas de arroz estocadas; em 2015, mais de 1 milhão de toneladas. Já em 2020, restaram apenas 22 toneladas, insuficientes para garantir sequer uma semana de consumo. Desde então, a situação se agravou, deixando o país sem estoques reguladores para contingências ou programas sociais.

A ausência dessa infraestrutura obrigou muitos agricultores a venderem suas safras rapidamente, muitas vezes a preços desfavoráveis. Sem acesso a armazéns públicos, ficaram sujeitos a práticas abusivas de grandes empresas e à volatilidade do mercado. Ainda assim, as exportações dispararam. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o Brasil enviou 50,5 milhões de sacas de 60 kg para o exterior em 2024, um aumento de 28,8% em relação a 2023.

Esse volume é quase equivalente ao produzido na safra atual. De acordo com Ferreira, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café, o país só não ficou sem café porque parte do que foi exportado veio de estoques com grãos de safras passadas. A alta do dólar também influenciou o mercado, com a saca subindo de cerca de R$ 900 em 2023 para R$ 2.300 em 2025, incentivando ainda mais as vendas externas.

Diante desse cenário, o Brasil precisa urgentemente retomar políticas públicas para fortalecer a cadeia cafeeira. Investir em pesquisa para soluções tecnológicas que mitiguem os efeitos climáticos é fundamental. Além disso, a reestruturação dos armazéns públicos poderia oferecer maior estabilidade ao setor, permitindo que produtores tenham segurança para negociar suas safras.

O café é parte fundamental da identidade e da economia brasileira. Preservar essa tradição e garantir a sustentabilidade do setor exige uma visão estratégica que contemple tanto as questões ambientais quanto o apoio governamental eficiente. Somente assim será possível superar os desafios impostos pela crise climática e reverter os impactos das decisões que desestruturaram o mercado.

(*) Paula Cristiane Oliveira Braz é Administradora, especialista em Agronegócios, tutora dos cursos de pós-graduação na área de Agronegócios do Centro Universitário Internacional UNINTER.   

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

Últimas publicações

1

Produção de grãos pode bater novo recorde no Brasil

2

Holding rural: o que é e quais os objetivos?

3

Tipos de abacate: conheça as variedades mais cultivadas no Brasil

4

Limão caviar: a fruta exótica que vale mais de R$ 2.000 por quilo

5

Mariangela Hungria ganha o “Nobel” da agricultura mundial

Participe do Nosso Canal no WhatsApp

Receba as principais atualizações e novidades do agronegócio brasileiro.

Assine a Revista Campo & Negócios

Tenha acesso a conteúdos exclusivos e de alta qualidade sobre o agronegócio.

Publicações relacionadas

produção de grãos

Produção de grãos pode bater novo recorde no Brasil

Futuristic technology trend in smart farm concept. Farmer use AI help agriculture to boost crop productivity with better plant health and weather monitoring And data is also gathered to further train

Holding rural: o que é e quais os objetivos?

Tipos de abacate lado a lado mostrando variações de casca, formato e polpa.

Tipos de abacate: conheça as variedades mais cultivadas no Brasil

Frutos de limão caviar cortados, mostrando as pérolas coloridas da polpa

Limão caviar: a fruta exótica que vale mais de R$ 2.000 por quilo