Pesquisadores produzem bioinseticida contra moscas-das-frutas

Esse bioinseticida é o primeiro produto formulado com o fungo Metarhizium anisopliae para o controle da mosca-da-carambola. A eliminação do inseto hospedeiro ocorre por meio da aplicação direta do produto no solo.

Publicado em 10 de novembro de 2023 às 15h00

Última atualização em 10 de novembro de 2023 às 15h00

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Embrapa Amapá desenvolveu um inseticida microbiológico para combater espécies de mosca-das-frutas, entre elas a praga quarentenária mosca-da-carambola (Bactrocera carambolae), presente em todo o estado do Amapá e em áreas restritas de Roraima e do Pará. O inédito bioinseticida tem como base o fungo Metarhizium anisopliae, isolado de solo no município de Macapá (AP).  Por ter sido obtido no ambiente amazônico, o microrganismo é ideal para o controle das moscas-das-frutas que ocorrem em ambiente tropical.   

A mosca-da-carambola já foi identificada em 26 frutíferas como goiaba, manga, carambola, acerola, citros, tangerina, caju, jambo e laranja-da-terra, conforme apontam os estudos da Embrapa Amapá
Foto: Cristiane Ramos de Jesus

Os pesquisadores da Embrapa atestaram o potencial de ação desse ativo tecnológico em territórios nacional e internacional, no controle das seguintes espécies de moscas-das-frutas: Bactrocera carambolae (mosca-da-carambola), Anastrepha fraterculusCeratitis capitata (mosca do Mediterrâneo) e Bactrocera dorsalis (mosca-das-frutas-oriental). Todas elas são de importância econômica para a fruticultura.   

Somente a mosca-da-carambola já foi identificada em 26 frutíferas como goiaba, manga, carambola, acerola, citros, tangerina, caju, jambo e laranja-da-terra, conforme apontam os estudos da Embrapa Amapá. Por isso, ela é capaz de provocar grande impacto econômico nessas culturas no País. De acordo com o pesquisador Adilson Lopes Lima, embora os danos causados aos frutos não causem doenças em humanos, a principal motivação para erradicar a mosca-da-carambola é evitar a dispersão para áreas de produção comercial exportadora de frutas, especialmente o Vale do Submédio São Francisco, na região Nordeste, que é o maior pólo de produção e exportação de manga do Brasil, com uma área plantada de aproximadamente 12 mil hectares.

Esse bioinseticida é o primeiro produto formulado com o fungo Metarhizium anisopliae para o controle da mosca-da-carambola. A eliminação do inseto hospedeiro ocorre por meio da aplicação direta do produto no solo. Além de não apresentar toxicidade, trata-se de um produto sem resíduos, e não há similar no mercado tanto para a mosca-da-carambola quanto para as espécies de moscas-das-frutas Anastrepha fraterculus e Ceratitis capitata.

Como funciona o bioinseticida

O fruticultor deve aplicar o bioinseticida formulado na projeção da copa das frutíferas hospedeiras das espécies-praga. Os resultados mostraram que, em condições de campo, o percentual de controle obtido com a tecnologia foi elevado, chegando até 87%.

O pesquisador conta que o controle biológico de pragas agrícolas é uma alternativa sustentável para reduzir ou substituir a utilização de inseticidas químicos sintéticos. Nesse contexto, o uso de inimigos naturais de insetos-praga como os fungos entomopatogênicos (que atacam e matam insetos) tem aumentado consideravelmente.

O produto não apresenta risco para o meio ambiente e atua sobre as larvas, pupas e adultos da praga ainda no solo. No caso de adultos oriundos de solo tratado, boa parte emerge infectado e morrem antes de completar o período de pré-oviposição, não chegando a produzir descendentes.

Tecnologia pronta para parcerias comerciais

O bioinseticida será avaliado no controle de outras espécies de mosca-das-frutas
Foto: Danilo Nascimento

Atualmente no status de ativo para formulação de produto, a tecnologia aguarda por parceiros da iniciativa privada interessados em produzi-lo e comercializá-lo. A Embrapa apresenta oportunidades para o aperfeiçoamento dos estudos de ampliação do tempo de prateleira do produto, e testes adicionais para outras espécies de insetos de importância econômica. O bioinseticida ainda poderá ser avaliado no controle da mosca-das-frutas sul-americana [Anastrepha fraterculus (Wiedemann] e a mosca-do-mediterrâneo [Ceratitis capitata (Wiedemann)], que possuem um ciclo de vida semelhante ao da mosca-da-carambola.

O uso de formulação desse micro-organismo para o controle da mosca-da-carambola é uma possibilidade concreta, já que apresenta alta efetividade de controle e facilidade de produção em escala comercial”, afirma Lima. 

A similaridade filogenética e dos ciclos de vida das pragas-alvo podem promover a expansão para outros potenciais mercados. “A mosca-da-carambola (Bactrocera carambolae) é uma espécie que faz parte do complexo Bactrocera dorsalis, com cerca de 85 espécies muito próximas geneticamente”, destaca a equipe de pesquisa.

Lima declara que, considerando a B. dorsalis uma das pragas agrícolas mais destrutivas do mundo e um dos fatores mais limitantes do comércio internacional de frutas in natura, o uso desse ativo da Embrapa tem potencial para impactos de dimensões econômicas, sociais e ambientais expressivas.

O bioinseticida tem como base o fungo Metarhizium anisopliae, isolado de solo no município de Macapá (AP).
Foto: Cristiane Ramos de Jesus


Vantagens do bioinseticida com Metarhizium anisopliae

  • Eficácia comprovada para o controle de larvas, pupas e adultos da mosca-da-carambola (Bactrocera carambolae).
  • Isolado endêmico da região Norte do Brasil, disponível apenas na coleção Embrapa (Recursos Genéticos e Amapá).
  • Conídios do fungo (ingrediente ativo) ainda não utilizado em nenhuma formulação comercial, no Brasil e exterior.
  • Não há outros isolados de microrganismos com resultados semelhantes para controle da mosca-da-carambola.
  • Não exige equipamentos adicionais para aplicação em nível de propriedade rural.

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