Tratamento de sementes no manejo de nematoides

O tratamento de sementes é uma estratégia eficaz para o manejo de nematoides, protegendo as plantas desde o início e garantindo um cultivo saudável.

Publicado em 11 de julho de 2023 às 09h00

Última atualização em 11 de julho de 2023 às 09h00

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Jean de Oliveira Souza
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Produção Vegetal

Os nematoides estão entre os principais patógenos da agricultura mundial, em razão dos prejuízos significativos que causam em culturas de importância econômica. Eles danificam o sistema radicular das plantas e os sintomas predominam em áreas delimitadas da lavoura, conhecidas como reboleiras.

Nestes locais da área de cultivo, as plantas expressam menor porte e ficam mais sensíveis ao estresse hídrico, o que prejudica o florescimento, provoca o amadurecimento prematuro das folhas, confundido muitas vezes com deficiência nutricional.

As perdas anuais, considerando-se a redução da produção e da qualidade das culturas, além dos custos das práticas de manejo adotadas para controle, foram estimadas em aproximadamente 12%.

O tratamento de sementes pode prevenir vários problemas fitossanitários na lavoura
Crédito: Shutterstock

Nematoides mais agressivos

Dentre os gêneros de nematoides economicamente mais daninhos estão: Meloidogyne, Pratylenchus, Heterodera, Ditylenchus, Globodera, Tylenchulus, Xiphinema, Radopholus, Rotylenchulus e Helicotylenchus.

Contudo, os nematoides causadores de galhas (Meloidogyne spp.) estão entre os mais importantes. Esse patógeno está disperso em vários ambientes em todo o mundo, causando perdas às principais culturas agrícolas.

No Brasil, várias espécies têm sido relatadas em associação às principais plantas cultivadas, mas Meloidogyne incognita e M. javanica são reconhecidamente as espécies mais importantes, principalmente em função dos prejuízos causados e da ampla distribuição geográfica.

Outro grupo que merece atenção é o nematoide das lesões radiculares, gênero Pratylenchus, principalmente as espécies Pratylenchus brachyurus e P. penetrans que, apesar de provocarem problemas considerados secundários em hortaliças, atualmente vem crescendo as perdas relacionadas a esses nematoides em diversas culturas.

Manejo

A expansão da área cultivada por diferentes regiões do país, em diferentes culturas, associado ao manejo inadequado da lavoura e ao uso contínuo de genótipos suscetíveis a doenças pode proporcionar incremento de organismos patogênicos.

Uma das formas de manejo eficiente é o tratamento de sementes, que favorece a obtenção de semente de qualidade elevada. Isso possibilitará um excelente estande, contribuindo para potencializar o desempenho genético das plantas no campo e, consequentemente, uma excelente produtividade e qualidade das lavouras.

Um dos principais métodos de controle utilizados é o químico, pela aplicação de nematicidas, que é feita no sulco de plantio com formulações granuladas, na época do plantio, resultando em incremento de produtividade.

Esta é uma técnica considerada agressiva ao meio ambiente, razão pela qual seu uso deve ser moderado. Visando contornar o impacto ambiental causado pelos nematicidas, sem abrir mão de seu benefício no controle de nematoides, o tratamento de sementes, por aliar essas duas características, além da facilidade de aplicação, surge como opção para o manejo desses patógenos.

Alguns produtos mais utilizados são aqueles à base de abamectina, produzidos por Streptomyces avermictilus, e o thiodicarb, ambos registrados para o tratamento de sementes na cultura do algodão.

Controle biológico

Em soja, embora tenha se constatado redução significativa da população de nematoides com a utilização de abamectina no tratamento de sementes de soja, vale considerar que o manejo e controle da praga é extremamente difícil, e a utilização de produtos para seu controle no tratamento de sementes é apenas uma das ferramentas disponíveis.

Nesse aspecto, o controle biológico vem sido amplamente utilizado para controle de fitonematoides, tendo como principais agentes de controle de fungos e bactérias, produtos à base de Bacillus spp. antagonistas de espécies de Meloidogyne.

Eles se mostram viáveis no manejo desse patógeno, devido ao aumento da mortalidade de juvenis de segundo estádio da espécie M. incognita imersos por seis dias em isolado de Bacillus amyloliquefasciens que, quando comparado à testemunha (tratamento apenas com água, que foi considerado 100%), teve aumento em 310,34%.

Bactérias do gênero Bacillus atuam diretamente sobre os nematoides, utilizando-se de antibióticos e toxinas que inibem a eclosão e a motilidade de juvenis. A eficácia do tratamento de sementes utilizando o controle químico com carbofurano e biológico com Bacillus subtilis foi comprovada reduzindo o desenvolvimento de nematoides do gênero Meloidogyne em genótipo suscetível de soja, evidenciando que a interação entre produtos químicos e biológicos nessa técnica aumenta a eficiência de ambos os compostos.

Pesquisas

Estudos relatam que as bactérias de Bacillus subtilis promovem ação antagônica às espécies de Meloidogyne. Elas atuam no ciclo reprodutivo, além de produzir as endotoxinas, promover a redução da ovoposição e interferir na eclosão.

Estudos realizados com isolados de B. subtilis apresentam resultados significativos no controle de M. incognita, M. javanica, M. hapla e M. arenaria, potencializando seu uso no controle biológico.

Há relatos da ação bacteriana na transformação de compostos minerais em orgânicos que estavam indisponíveis, favorecendo o desenvolvimento da planta, além de inibir a ação de patógenos, contribuindo diretamente para o incremento na produção.

Vale a pena?

Seja através do tratamento de sementes ou pelo manejo biológico de fitonematoides, são técnicas de manejo eficientes para lidar com o ataque desse fitopatógeno nas lavouras e que causam redução de produção e qualidade dos produtos agrícolas produzidos.

O objetivo é mitigar os custos elevados para o controle, principalmente quando o patógeno consegue se instalar e se disseminar nos solos das áreas agrícolas exploradas economicamente.

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