Indutores de resistência: estímulo às defesas naturais das hortaliças

O uso de indutores de resistência tem sido muito estudado nos últimos anos. Conheça os benefícios.
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Franciely da Silva Ponce
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP
francielyponce@gmail.com

Foto: Shutterstock

O ataque de pragas e patógenos promove elevada perda de produtividade e de qualidade das hortaliças, em que algumas pragas-chaves, como a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), a traça-das-crucíferas (Plutella xylostella L.), doenças como a Alternaria sp., a antracnose do morangueiro (Colletotrichum fragariae e Colletotrichum acutatum), dentre outras, pode levar a perdas de até 100%. 

A contaminação de hortaliças por resíduos de agrotóxicos é uma preocupação crescente dos consumidores. Além disso, buscar por alternativas de manejo de pragas e doenças auxilia na redução das perdas em caso de difícil controle e podem significar uma redução nos custos de produção.

Defesa natural

As plantas, ao contrário do que muitos pensam, são organismos com a capacidade de defender-se de herbívoros e fitopatógenos. Além disso, estão em constante produção de metabólitos de defesa contra as adversidades do meio de cultivo, tais como temperatura (baixa ou alta), excesso luminoso, radiação ultravioleta UV), déficit hídrico, vento, entre outros.

Todos estes elementos promovem a formação de espécies reativas de oxigênio (EROs) que, por sua vez, leva a uma série de mudanças bioquímicas nas plantas, que darão origem a respostas de defesa. Durante toda a vida, a planta está em constante processo de defesa, com a produção de compostos bioquímicos para inativação das EROs.

Muitos desses compostos são importantes para a saúde humana, tais como compostos fenólicos, vitamina C, flavonoides, aminoácidos, entre outros. Alguns compostos funcionam como indutores de resistência de plantas e atuam induzindo respostas de defesas bioquímicas e estruturais, que vão da produção de compostos à promoção de enrijecimento da parede celular.

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Indução de resistência

O uso de indutores de resistência tem sido muito estudado nos últimos anos. Dentre alguns produtos disponíveis no mercado, estão aqueles à base de biológicos e substâncias abióticas, utilizados principalmente na defesa contra doenças de plantas.

A indução de resistência é uma das alternativas mais efetivas para o controle de patógenos por ativar mecanismos de defesa latentes da planta, que passam a se expressar após a exposição a elicitores bióticos ou abióticos.

A ativação das defesas da planta não impede o estabelecimento da doença, mas faz com que diminuam as lesões de bactérias e a esporulação, no caso de ataque das plantas por fungos.

Os indutores de resistência podem ser bióticos, no caso de fungos, bactérias e vírus, ou abióticos, no caso de substâncias químicas, como hormônios sintéticos, entre outros. Tanto os bióticos como os abióticos agem sobre o metabolismo da planta, induzindo a respostas bioquímicas e fisiológicas que intervirão na colonização ou infestação das plantas.

Os indutores de resistência não agem diretamente sobre o patógeno ou os insetos, mas desencadeiam uma série de mecanismos de defesa da própria planta, que vão desde a produção de substâncias com sabor desagradável aos insetos, como os taninos, ou mesmo o fortalecimento das paredes celulares, evitando a colonização dos tecidos por fitopatógenos e a herbivoria por insetos.

No mercado, existem produtos formulados à base de bactérias e fungos, além de outros à base de substâncias químicas e hormônios sintéticos.

Soluções alternativas

Alguns estudos têm sido desenvolvidos no sentido de determinar a ação de hormônios vegetais, tais como o jasmonato, que atua na resistência de plantas ao ataque de insetos mastigadores, como lagartas. 

Os estudos com este hormônio apresentam resultados promissores na redução da infestação de plantas por pragas. A adubação com silício tem sido relacionada ao aumento de produção de jasmonato nas plantas, podendo ser uma alternativa para o manejo de pragas.

A utilização de alguns fungos e bactérias, como Bacillus subtili, B. methylotrophis Trichoderma harzianun e Trichoderma asperellum podem atuar dificultando a colonização dos fungos, induzindo a resistência das plantas.

A bactéria B. subtili tem sido utilizada para reduzir a incidência de mofo cinzento (Botrytis cinerea) em frutos de morango, apresentado redução de 62%. O uso de B. subtili em cultivo hidropônico auxilia na redução de Pythium spp. em alface, como alternativa para o manejo da doença.

Mais benefícios

Foto: Shutterstock

Outra vantagem dos indutores de resistência está relacionada ao custo, que é baixo, quando comparado a outros insumos. A utilização destes produtos pode ainda retardar ou reduzir a necessidade de uso dos produtos curativos, reduzindo os custos produtivos.

Diversos compostos indutores de resistência têm sido utilizados em hortaliças, sendo comprovada a eficiência do uso de acibenzolar-S-methyl (ASM) na redução de podridão-mole em couve-chinesa em campo, sem reduzir a produção.

O ASM em plantas de tomate auxilia na produção de enzimas de defesa, como peroxidase, polifenoloxidase, fenilalanina amônia liase, atuando de maneira positiva sobre a produção. Em pepino, Trichoderma spp. foi capaz de reduzir em 88% a incidência de antracnose (Colletotrichum lagenarium (Pass.) Ellis & Halsted, além de reduzir a severidade da doença.

Quando aplicar os indutores

Em se tratando de doenças recorrentes, os indutores de resistência podem ser utilizados como preventivos, e vários destes produtos apresentam efeito de adubo foliar. Avaliar o efeito do indutor de resistência sobre a planta e a necessidade de utilização favorece a obtenção de resultados positivos.

No entanto, é sempre importante consultar um profissional para auxiliar na tomada de decisão, pois as recomendações podem variar conforme a cultura e o efeito desejado.

Cuidados essenciais

Dentre os principais cuidados, podemos destacar:

  • O uso adequado de cada tipo de indutor para cada função;
  • Seguir as instruções do fabricante para um melhor aproveitamento do produto;
  • Não fazer uso desnecessário dos indutores de resistência;
  • Buscar informações sobre o uso do produto na cultura de interesse e os resultados já existentes;
  • Manter as boas práticas agrícolas para que haja efeito complementar;
  • Priorizar o manejo integrado de pragas e doenças para obter melhores resultados.

Para que sejam alcançados resultados positivos, o produtor deve ter em mente que o uso de indutores de resistência é uma ferramenta útil no manejo de pragas e doenças, no entanto, é preciso que as ferramentas já utilizadas no MIP e no MID sejam mantidas e priorizadas.

Como vantagem adicional, muitos dos indutores de resistência são compatíveis com o cultivo orgânico, podendo representar uma alternativa a mais para a produção sustentável de hortaliças.

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