Redução de gases de efeito estufa na piscicultura

Trabalho coordenado pela UFJF acompanha emissão de gases por tanques escavados em Minas Gerais

Publicado em 24 de março de 2022 às 16h33

Última atualização em 24 de março de 2022 às 16h33

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Acervo Epamig

A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) integra a equipe de trabalho do projeto “Emissões de gases de efeito estufa (CH4, N2O E CO2) por pisciculturas no estado de Minas Gerais: Entender os fluxos para produzir de forma mais sustentável”. A proposta, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e coordenada pelo professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Nathan Oliveira Barros, conta com a participação de alunos de mestrado e de doutorado e de pesquisadores de instituições nacionais (UFJF, Unirio, UFRJ e Unemat) e internacionais (Radboud University of Nijmegen, na Holanda, Texas University e Cornell University, as duas últimas nos EUA).

Uma das etapas do projeto consiste na avaliação da magnitude e dos controladores das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em tanques de piscicultura escavados. Esta fase vai embasar a tese de doutorado do discente Ícaro Barbosa Alves, que está entre as entregas previstas pela proposta. O acompanhamento e a coleta de dados começaram, em fevereiro, no Campo Experimental da EPAMIG em Leopoldina, que disponibiliza os tanques de piscicultura, maquinários e a infraestrutura de pesquisa para a realização dos trabalhos.

O pesquisador Giovanni Resende é o representante da EPAMIG no trabalho e, além de coautor, vai contribuir com atividades em campo e com o fornecimento de dados sobre a produção de peixes. “Esse projeto é pioneiro e dará origem a outros nos quais pretendemos avaliar diferentes sistemas produtivos, não somente tanques escavados, mas também tanques-rede e tanques suspensos, com recirculação ou não; diferentes densidades de peixe; com maior tecnificação, com maior adensamento, com maior ou menor luminosidade. Há uma série de variáveis que o grupo pretende avaliar para melhorar a precisão desse levantamento, inclusive no comparativo com outras atividades, como bovinocultura, suinocultura e avicultura”. 

O professor Nathan Barros justifica que não existem muitos estudos sobre os impactos dos gases gerados pela piscicultura. “Estudos de emissão de gases de efeito estufa em sistemas aquáticos continentais vêm aumentando na última década, principalmente em reservatórios. Contudo, pouca atenção tem sido dada aos pequenos lagos, incluindo tanques de piscicultura. Esses ambientes geralmente são classificados como eutróficos (ricos em nutrientes), e conhecidos por emitirem mais metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) do que os grandes lagos”.

O doutorando em Biodiversidade e Conservação da Natureza pela UFJF, Ícaro Barbosa Alves, explica que o estudo considera diferentes sistemas aquáticos e a emissão do principais gases que favorecem o aquecimento global, a saber, gás carbônico, metano e óxido nitroso. “A produção de peixes em tanques escavados gera gás de efeito estufa, principalmente, pela matéria orgânica que chega nesse tanque e que pode vir pela água, por restos de animais, restos de plantas, algas, bactérias, cianobactérias, organismos que estão nas colunas d´água e que em algum momento vão morrer e se sedimentar no fundo do tanque, onde outros microrganismos darão início ao processo de decomposição, que tem como subprodutos esses gases de efeito estufa”.

Objeto de estudo

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2018), a produção de peixes em tanques vem aumentando, entre 5% e 11% ao ano, principalmente em países tropicais e subtropicais, para atender o aumento global na demanda por proteína. “Esse aumento no número de tanques faz com que aumente também a preocupação com os impactos que possam ser gerados na produção de peixes”, argumenta Ícaro Barbosa.

“A proposta é conhecer e mitigar o impacto ambiental da piscicultura, em Minas Gerais, que é um dos principais estados produtores do Brasil. Temos, como hipótese, que a emissão de GEE pelo ciclo de produção em pisciculturas é muito maior do que se considera atualmente, mas ainda menor do que a produção de outras fontes de proteína animal no Estado. Esperamos com os dados coletados contribuir para a geração de informações mais precisas sobre a atividade, apontar fatores controladores e sugerir boas práticas de manejo com vistas a reduzir as emissões em tanques de piscicultura. Esse projeto é sem dúvida o maior desafio da minha carreira científica até o momento.”, acrescenta Nathan Barros.

Giovanni Resende informa que nove tanques de piscicultura escavados, sendo três de tilápia, três de carpa e três com as duas espécies, serão acompanhados durante a execução do projeto. O pesquisador destaca ainda que os equipamentos e peixes adquiridos pelo projeto serão cedidos para a EPAMIG após o período de avaliação. “Estão previstas ainda as contratações de um estagiário de Medicina Veterinária e de um bolsista, para auxiliar nas tarefas de rotina, manejo e mensuração da emissão de gases de efeito estufa”.

Sobre a escolha das espécies, Ícaro Barbosa explica que, em função dos hábitos diversos, esses peixes atuam de formas distintas nas emissões desses gases de efeito estufa. “A tilápia passa boa parte do tempo na coluna d’água, já a carpa fica mais no fundo do tempo tanque. No trabalho realizado na EPAMIG vamos conseguir avaliar o comportamento e os impactos dessas duas espécies, que estão entre as mais produzidas no mundo, considerando variáveis ambientais e climáticas, para gerar dados sobre os custos de carbono na produção de peixes, que possam embasar ações em diferentes regiões produtoras. Essa é uma oportunidade única para desenvolver esse projeto tão inovador, desafiador e de alto interesse científico e aplicado”, conclui.

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