Sorgo em alta: o cereal que desafia a seca e conquista o Cerrado

Com alta resistência à seca, o sorgo deixa de ser alternativa e passa a ocupar papel estratégico nas rotações.
Foto: Adriano Leite

Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 06h12

Última atualização em 3 de dezembro de 2025 às 15h16

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Nos últimos anos, o sorgo consolidou seu espaço nas lavouras brasileiras. A produção nacional para 2025 é estimada em torno de 3,56 a 6,6 milhões de toneladas, dependendo da fonte, com estimativas variando entre análises de mercado e previsões institucionais.

As pesquisas mais recentes do IBGE apontam para uma safra recorde de 4,4 milhões de toneladas no total, embora o valor específico para sorgo não esteja detalhado em todos os relatórios.

Já a análise da Scot Consultoria projeta um crescimento de 8,4%, para 6,6 milhões de toneladas, impulsionado pelo foco na nutrição animal e pela maior área plantada, apesar de questões de produtividade por hectare.

No mundo, a produção é de cerca de 60 milhões de toneladas, liderada por Estados Unidos, Nigéria e Índia. O Brasil ainda ocupa uma fatia modesta, mas o ritmo de expansão o coloca como novo competidor relevante no mercado global.

Tolerância à seca

Segundo o engenheiro agrônomo e consultor Adriano Leite, o crescimento é resultado de uma combinação de fatores agronômicos, econômicos e climáticos que colocaram a cultura no radar do produtor.

A principal vantagem do sorgo está na alta tolerância à seca — graças a raízes profundas, fechamento estomático eficiente e metabolismo capaz de reduzir a perda de água. “Esses mecanismos fazem do sorgo uma cultura muito mais segura que o milho em regiões com déficit hídrico”, explica Leite.

Além disso, a demanda crescente por ração animal e a abertura de novos mercados de exportação, especialmente na África e na Ásia, tornaram o cultivo ainda mais atraente. A melhoria genética dos híbridos modernos completou o cenário, oferecendo plantas mais produtivas e adaptadas às condições brasileiras.

Adriano Leite, consultor e engenheiro

Exportações vêm com tudo

O Brasil conquistou a habilitação dos primeiros cinco estabelecimentos para exportar DDG/DDGs (grãos secos de destilaria) e de dez unidades para exportar sorgo à China.

A autorização reforça a relação comercial com o principal parceiro do agronegócio brasileiro e abre novas oportunidades para o setor de grãos e a indústria de etanol de milho, segundo divulgou o Mapa em nota.

A medida resulta da assinatura do Protocolo Fitossanitário do Sorgo (novembro de 2024) e do Protocolo de Proteínas e Grãos Derivados da Indústria do Etanol de Milho (maio de 2025), além da conclusão dos modelos de certificado fitossanitário acordados entre as autoridades dos dois países.

Produção nacional

No caso do sorgo, a região centro-oeste responde por mais de 60% da produção nacional. Em 2024, segundo o IBGE, o Brasil produziu mais de 4 milhões de toneladas, das quais 178,4 mil toneladas (4%) foram exportadas.

Foram habilitadas quatro unidades no Mato Grosso, quatro em Minas Gerais, uma em Rondônia e uma na Bahia.

A China é responsável por mais de 80% das importações globais de sorgo, que totalizaram US$ 2,6 bilhões no último ano.

Condições favoráveis ao cultivo

A tolerância hídrica é o principal fator que impulsionou a expansão do sorgo em áreas com menor disponibilidade de água.

O fechamento rápido dos estômatos e o sistema radicular profundo permitem que a planta mantenha produção mesmo sob estresse moderado — cenário comum nas safras tardias e regiões de chuvas irregulares.

“Em locais onde a irrigação não é viável, o sorgo passou a ser a melhor opção de cultivo, com menor risco e boa rentabilidade”, destaca o agrônomo.

Híbridos mais produtivos e adaptados

O avanço genético foi decisivo. Instituições públicas e privadas lançaram híbridos com alto potencial produtivo e melhor adaptação à safrinha.

Alguns materiais já ultrapassam 6,0 toneladas por hectare em condições ideais, mostrando o salto tecnológico que sustenta a expansão da cultura.

Esses híbridos também apresentam resistência ao estresse hídrico e ciclos precoces a médios, adequados às janelas de plantio brasileiras.

Exportações em ascensão

Embora o volume exportado ainda seja modesto, o crescimento é constante. Em 2023, o Brasil embarcou 33,9 mil toneladas de sorgo, com valor aproximado de US$ 8,4 milhões, tendo como principais destinos a África do Sul e países latino-americanos.

Mas o grande salto pode vir com o mercado asiático. Em 2025, a China aprovou a importação de sorgo brasileiro, o que, segundo Leite, “pode ser um divisor de águas para as exportações”.

Essa abertura coloca o Brasil em rota direta de crescimento no comércio internacional do cereal.

Sorgo na rotação com soja e milho

O sorgo tem se mostrado altamente viável em sistemas de rotação e sucessão. Ele pode entrar como segunda safra após a soja ou alternar com o milho, agregando benefícios agronômicos ao sistema.

Além de produzir grãos e massa para ração, Adriano Leite conta que o sorgo devolve palhada ao solo, melhora a estrutura física e amplia a janela de plantio da cultura seguinte. “Em termos de rentabilidade, o sorgo oferece custo mais baixo e menor risco climático que o milho tardio. Em regiões com preços firmes e contratos de exportação, a margem ajustada ao risco pode ser superior à do milho”, diz.

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