Sorgo: o cereal que reescreve o agronegócio brasileiro

Impulsionado por clima desafiador, novas demandas industriais e genética avançada, o sorgo deixa de ser coadjuvante.
Fotos: Sandra Brito

Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 06h52

Última atualização em 3 de dezembro de 2025 às 15h12

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Impulsionado por clima desafiador, novas demandas industriais e genética avançada, o sorgo deixa de ser coadjuvante e assume papel estratégico na rotação de culturas, na bioenergia e agora também no mercado internacional.

O Brasil vive uma expansão sem precedentes na produção de sorgo. Em uma década, o país quadruplicou sua produção, puxado por uma mistura de tecnologia, necessidade de adaptação climática e pressão de mercado.

Para o pesquisador Flavio Dessaune Tardin, da Embrapa Milho e Sorgo, esse crescimento tem explicação clara: “A valorização do grão no mercado interno, impulsionada pela demanda das cadeias de ração animal e, principalmente, pelo uso emergente do sorgo pelas indústrias de etanol de milho, tem estimulado a ampliação das áreas cultivadas.”

Segundo ele, a entrada do sorgo como matéria-prima para etanol e DDGS abriu novas fronteiras nos estados próximos às usinas, como Mato Grosso do Sul, Maranhão e regiões com pressão crescente de demanda. Não por acaso, o cereal avança justamente onde o milho sofre: clima instável e forte pressão da cigarrinha.

O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo, Frederico José Evangelista Botelho, reforça a mesma visão: “A resiliência do sorgo frente ao déficit hídrico é o fator mais expressivo. Ele se tornou uma opção mais segura e estável que o milho para regiões com restrições hídricas recorrentes na safrinha.”

A força da seca: fisiologia e tecnologia ampliam a adoção

A resistência natural à seca é o passaporte do sorgo para regiões de baixa pluviosidade. Flavio Tardin explica: “O sorgo possui mecanismos fisiológicos que permitem reduzir seu metabolismo e ‘esperar’ pela chuva, garantindo colheita onde o milho falharia.”

Ele destaca ainda que o uso de tecnologias de manejo, plantio direto, cultivares de ciclo curto e manejo integrado de plantas daninhas, pragas e doenças, potencializa a estabilidade da cultura. Botelho concorda e complementa: “Antes cultivado com pouca tecnologia, o sorgo agora recebe investimentos. Com híbridos mais precoces e manejo ajustado, alcança produtividades que garantem viabilidade agronômica mesmo sob condições de estresse hídrico.”

Por que o sorgo virou alternativa econômica real

Com energia metabolizável equivalente a 95 a 99% do milho e preço médio em 80% do valor do milho, o grão se destaca na formulação de rações. Tardin é direto: “A substituição reduz custos e garante eficiência nutricional. Isso se traduz em carne, leite e ovos mais baratos.”

Para etanol e DDGS, o raciocínio é o mesmo: desempenho industrial semelhante ao milho, porém com custo menor e produção viável em áreas onde o milho não prospera. Botelho destaca o papel estratégico das usinas: “A conversão de amido em etanol é altamente eficiente, e a demanda das usinas projeta o sorgo como matéria-prima estratégica na bioenergia.”

A nova genética da Embrapa: produtividade, resistência e qualidade

Com mais de 40 anos de pesquisa em melhoramento, a Embrapa entrega híbridos cada vez mais robustos. Tardin elenca os avanços: Híbridos produtivos e precoces; Baixo fator de reprodução para nematoides da soja; Boa palhada residual para o plantio direto; Resistência ao acamamento; Potencial para seleção de genótipos com mais amido e proteína.

Segundo ele, “temos variabilidade genética suficiente para desenvolver grãos conforme o interesse da indústria.” Botelho acrescenta que a genética atual vai além da produtividade: “Desenvolvemos materiais tolerantes a estresses bióticos e abióticos, adaptados às diversas regiões produtoras.”

Exportação: o gigante chinês abre a porta e muda o jogo

Hoje, o Brasil ainda exporta pouco, muito menos que EUA, Austrália e Argentina. Mas isso está mudando rapidamente. Tardin relembra: “Brasil e China assinaram protocolos para exportação, e os embarques devem se intensificar a partir de 2026.”

Como a China é o maior importador global, a entrada brasileira nesse mercado pode transformar o sorgo em commodity de exportação efetiva. Botelho vê no movimento uma revolução: “A exportação garante liquidez ao produtor e cria um preço de referência. A abertura do mercado chinês redesenha o mapa do sorgo.”

Os gargalos: logística, manejo e a velha cultura de baixo investimento

Apesar do avanço acelerado, ainda há desafios. Tardin aponta falta de conhecimento técnico específico, histórico de baixo investimento em adubação e manejo, competição por espaço nos armazéns, infraestrutura logística insuficiente e necessidade de produção estável para atender exportações.

“O produtor precisa entender que híbridos modernos respondem a investimento. Quem trata o sorgo como cultura de baixa tecnologia perde produtividade.” Botelho complementa com ênfase: “Ainda enfrentamos mitos técnicos e falta de infraestrutura. Sem canais robustos de escoamento e armazéns dedicados, o crescimento perde velocidade.”

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