
Se você emite ou paga nota fiscal, essa conta também é sua.
Não importa se você atua no agronegócio, no comércio, na indústria ou na prestação de serviços: a Reforma Tributária vai impactar a rotina (e o bolso) de todos.
Agora… se você é produtor rural e ainda acredita que essa reforma está distante de bater à sua porteira, é fundamental abrir o olho. O cronômetro já está correndo, e quem procrastinar pode acabar pagando, literalmente, por essa procrastinação.
A boa notícia? Ainda dá tempo de se preparar.
A má? O tempo já não está mais folgado.
Entendendo o Passo a Passo (Sem Precisar de Tradutor Tributário)
A Emenda Constitucional nº 132/2023 já foi aprovada, e a implementação do novo sistema será feita por etapas.
Se você perdeu esse “bonde” em 2024, ainda dá tempo de se atualizar. Anote aí (ou imprima e cole na geladeira da fazenda):
Cronograma da Reforma Tributária:
- 2024: O ano das leis complementares. Elas começaram a definir, na prática, como funcionarão o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e o IS (Imposto Seletivo), conhecido por alguns como “Imposto do Pecado”.
- 2026: Início da cobrança do IS — o primeiro tributo do novo modelo a entrar em vigor.
- 2027 a 2032: Período de transição. Os tributos atuais (ICMS, IPI, ISS, PIS/Cofins) serão gradualmente substituídos por IBS e CBS. Será como “trocar o pneu com o trator em movimento”.
- 2033: Sistema 100% implantado e operacional.
E o que Ainda Falta?
Falta o mais importante: a regulamentação completa por leis complementares.
É nelas que estarão os detalhes cruciais — alíquotas específicas, regimes especiais, créditos presumidos, enquadramentos e exceções. Tudo aquilo que afeta diretamente o agro — como a possível tributação de defensivos ou o custo de máquinas consideradas “poluentes” — ainda está pendente de definição. E sim, muita coisa pode mudar, de acordo com a pressão (ou a ausência dela) de cada setor.
Judicialização à Vista?
Sim. É bem provável que alguns setores recorram à Justiça.
(Judicialização, para quem não é do ramo jurídico, ocorre quando uma questão é submetida aos tribunais por falta de consenso político ou técnico.)
Exemplo prático: se um insumo essencial for considerado “pecaminoso” ou se um trator for classificado como “poluente” com base em critérios vagos, as entidades de classe podem ajuizar ações. Isso pode atrasar efeitos, reverter cobranças indevidas ou garantir direitos.
Por isso, sindicatos, cooperativas e associações precisam se mobilizar desde já.
Fique atento à entidade da sua região. Participe, pergunte, questione. A conta do silêncio costuma ser mais cara.
Como o Produtor Pode se Preparar (Sem Pânico, mas com Foco)
Converse com seu contador. Hoje.
E não vale um papo superficial. Muitas contabilidades trabalham no modo “mínimo necessário”. Nesse novo cenário, essa postura é caminho certo para dor de cabeça — e prejuízo.
Faça estas 5 perguntas que todo contador deveria responder com segurança:
- Meu regime atual (Pessoa Física ou Jurídica) ainda será o mais vantajoso no novo modelo?
- Como a transição vai afetar meu crédito tributário?
- Existe algum risco de aumento indireto nos custos com insumos ou equipamentos?
- Estou preparado para manter a conformidade fiscal (compliance) nos próximos anos?
- Você, contador, está acompanhando a Reforma e suas atualizações semanais?
Se ele gaguejar… talvez seja hora de repensar a parceria.
Mapeie seus principais custos e veja o que pode ser afetado.
Comece agora a identificar o que é mais sensível no seu sistema produtivo: diesel, fertilizantes, defensivos, maquinário. Com as novas regras, você vai saber o que precisa de um plano B.
Organize sua documentação e produtividade.
Reforma tributária vai pedir organização. Relatórios de produção, vendas, estoque e investimentos serão sua defesa — e sua oportunidade — na nova fase. Não deixe tudo na cabeça ou no caderninho.
Busque informação de fontes confiáveis (e tire suas dúvidas).
Fugir do assunto por medo, tédio ou excesso de siglas é o pior caminho. Eu sei que não é um tema leve. Mas pode ser a diferença entre pagar menos ou ser engolido pelo sistema.
E o Bom Humor Cabe Onde, Simone?
Cabe aqui: se você chegou até o final deste artigo, já está à frente de muita gente que vai descobrir a Reforma na guia de imposto — ou na intimação.
O agro é resiliente, estratégico e rápido quando precisa. Já enfrentou praga, geada, juros e burocracia. Reforma Tributária? Com informação e atitude, também dá para encarar. Estou aqui para ajudar.
No Fim das Contas?
A Reforma tem potencial de modernizar o sistema, corrigir distorções e tornar tudo mais transparente.
Mas só se o produtor — e todos os outros setores — fizerem sua lição de casa.
Pega a visão: essa não é uma agenda só do agro. A lógica vale para prestadores de serviço, indústria, comércio, profissionais liberais…Se você emite ou paga nota fiscal, essa conta também é sua.
Porque quem planta hoje informação, colhe amanhã economia — e colhe mais tranquilo.
Simone Silotti atua como consultora em inteligência tributária para o agro. É palestrante, sócia da Vale Louros e do Grupo Studio e responsável pelo projeto ESG #FaçaumBemINCRÍVEL. Formada em Gestão do Agronegócio, com MBA em Gestão de Projetos pela USP ESALQ, recebeu o Prêmio Internacional Líder da Ruralidade do IICA, o Prêmio Josué de Castro, o Prêmio Mulher do Agro 2024, entre outros reconhecimentos. É também uma das 100 Mulheres da Forbes Agro e integrante do Grupo Forbes Mulheres Agro. Coautora do Livro ENSEMBLE. Contato: 11 9 9758 1923 – www.valelouros.com.br
