A equipe da Espírito Madeira- Design de Origem atravessou os portões do Complexo Prisional de Xuri, em Vila Velha (ES), para conhecer de perto um projeto de ressocialização que une propósito, criação e transformação de vidas. A visita teve como foco a Marcenaria Jequitibá, instalada na Unidade 3 da penitenciária e considerada uma das mais bem equipadas do estado. O encontro aconteceu após reunião no Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), onde o diretor geral, Leonardo Monteiro, e o diretor-administrativo financeiro, Ronaldo Lubiana, reforçaram a importância da destinação de parte de uma carga de jacarandá apreendida para alimentar a produção da marcenaria.
A comitiva contou com nomes de peso, como Lorenzo Lube, professor da Faesa e especialista em análise e métodos construtivos em madeira; Julio Diógenes, da área de inovação e tecnologia; e o premiado arquiteto capixaba José Daher, responsável por criar uma peça exclusiva para ser produzida pelos detentos e entregue como presente a autoridades e palestrantes durante a Feira Espírito Madeira, de 11 a 13 de setembro, em Venda Nova do Imigrante (ES). Além disso, a iniciativa prevê que peças produzidas na Jequitibá sejam vendidas durante a Feira, com pagamento via DUA, garantindo que os recursos sejam revertidos ao fundo estadual, e que a parceria se prolongue com oficinas, palestras e campanhas de doação de equipamentos para marcenarias.

O subsecretário de Estado de Ressocialização da Secretaria da Justiça (Sejus), Marcelo de Araújo Gouvea, explicou que a seleção dos internos para participar de atividades como a marcenaria é feita pela Comissão Técnica de Classificação (CTC) da unidade prisional. “Consideramos disciplina, histórico de oportunidades, tempo de pena cumprido e aptidão para o trabalho, que avaliamos por meio de entrevistas e conversas para entender o interesse e a capacidade do interno”, destacou. O sucesso do projeto, segundo ele, é medido tanto pela qualidade dos produtos feitos — que chegam a atender demandas de outras secretarias — quanto pela capacidade de inserção desses internos no mercado de trabalho após a saída do sistema.
Gouvea reforçou ainda que a Sejus busca estreitar laços com o setor privado para ampliar as oportunidades. “Queremos que a iniciativa privada identifique, entre os internos que participam dos projetos de marcenaria, homens ressocializados, capacitados e comprometidos. O objetivo é que, ao saírem do sistema prisional, eles possam buscar uma nova trajetória de vida por meio do emprego, do sustento de suas famílias e da reinserção social”, afirmou. Para ele, parcerias estruturadas, como as que já existem com o Ifes e o Senac, são essenciais para a evolução dessas ações e para a redução da reincidência criminal.
Já Leonardo Monteiro detalhou que a destinação de madeira apreendida pelo Idaf segue critérios técnicos e legais previstos na legislação ambiental, considerando origem, conservação e viabilidade de uso. Quando não é possível regularizar ou devolver ao proprietário, o material pode ser direcionado para fins de interesse social. “A decisão de enviar parte desse material para a Marcenaria Jequitibá surgiu da parceria com a Sejus, unindo sustentabilidade e ressocialização. É uma iniciativa estratégica que promove o reaproveitamento de recursos naturais oriundos de ações de fiscalização ambiental e, ao mesmo tempo, contribuir para a capacitação profissional e reintegração social de pessoas privadas de liberdade”, ressaltou.

Para o diretor geral do Idaf, essa união de esforços representa um caminho promissor para se tornar política pública permanente. “Sem dúvida, parcerias como a firmada entre Idaf e Sejus têm potencial para se consolidar como política pública permanente. Elas representam uma solução inovadora e interinstitucional que une proteção ambiental, responsabilidade social e valorização da dignidade humana”, disse. Ele também apontou que o modelo pode ser replicado em outros projetos socioambientais, desde a educação ambiental até ações voltadas à agricultura familiar e comunidades tradicionais.
O arquiteto José Daher, após conhecer de perto a estrutura e os recursos técnicos da Marcenaria Jequitibá, avaliou que o maior valor da iniciativa está no impacto humano. “Eu particularmente imagino que este trabalho para os detentos é muito mais de motivação diária, de terem algo saudável no que pensar, do que um trabalho profissionalizante. Não descartando, entretanto, que em alguns casos isso possa se tornar realidade”, afirmou. Sua missão será criar uma peça especial, adaptada à matéria-prima disponível, para marcar a colaboração entre os detentos e a Espírito Madeira.
“Com a promessa de unir design, capacitação e impacto social, a parceria entre Espírito Madeira, Idaf, Sejus e a Marcenaria Jequitibá representa um modelo inspirador de como diferentes setores podem se articular para promover inclusão, sustentabilidade e dignidade. Ao transformar madeira irregular apreendida em produtos de qualidade e, ao mesmo tempo, oferecer novas perspectivas de vida para os internos, o projeto mostra que é possível reescrever histórias com criatividade e propósito”, destacou Antonio Nicola, um dos organizadores da Espírito Madeira.
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