Como alcançar o topo da produtividade na sojicultura brasileira enfrentando veranicos, excesso de chuvas e pragas resistentes? Para Paulo Stort, proprietário da Fazenda Santana, que atualmente planta 3.100 ha de soja, milho, trigo, feijão, sorgo e cevada em Itupeva (SP), a resposta está no tripé planejamento, monitoramento e execução com excelência. Campeão nacional do Desafio CESB 2025, com 126,7 sc/ha, ele mostra que não há milagre — mas há método. E muito foco.
“O detalhe é o que separa o bom do excelente. Conhecer profundamente sua área e fazer o básico com excelência ainda é o maior diferencial”, afirma Paulo. Essa também é a convicção de Adriano Leite de Oliveira, gerente da fazenda. E segundo ele, tudo começa pela estrutura da planta. “Estruturar uma planta é conduzir o desenvolvimento da soja de forma equilibrada desde o início, para que ela tenha arquitetura, raiz, caule e número de ramos capazes de suportar alto número de vagens e grãos com qualidade”, explica Adriano.
Clima desafiador e decisões antecipadas
Na safra campeã, o maior obstáculo para Paulo e Adriano foi a variabilidade climática: veranico no início da formação das vagens e chuvas excessivas na fase de maturação. A solução? Planejamento escalonado, escolha criteriosa de cultivares com teto produtivo alto e estabilidade, e uso intensivo de ferramentas de monitoramento em tempo real.


“Trabalhamos com dados, acompanhando clima e solo em tempo real, o que nos permitiu tomar decisões antecipadas e proteger o potencial da lavoura”, explicam.
Solo: o alicerce da produtividade
A base do sucesso, segundo o produtor, é o manejo profundo do solo. A Fazenda Santana investe há anos em construção de perfil, correção de acidez, gessagem profunda e adubação de sistema, sempre com agricultura de precisão e análise em malha.
Produtos enraizadores e inoculantes biológicos também fazem parte do pacote, favorecendo a absorção de água e nutrientes — fundamentais em cenários de estresse hídrico.
Integração biológica e química no controle fitossanitário
Paulo, junto com o consultor, adotou um modelo de manejo integrado, usando defensivos biológicos no sulco e em cobertura, combinados com aplicações estratégicas de fungicidas multissítios. “Trabalhamos com prevenção e alternância de mecanismos de ação, sempre com base no monitoramento constante. Isso fez a diferença no controle de ferrugem asiática, mancha-alvo e percevejo-marrom.”

Cultivar certa, tratamento completo
A escolha da cultivar não foi ao acaso. Foram considerados: ciclo, arquitetura de planta, sanidade de grãos, teto e estabilidade produtiva. O tratamento industrial de sementes incluiu fungicidas, inseticidas, bioestimulantes, inoculantes e promotores de crescimento — tudo para garantir um arranque vigoroso e um estande uniforme.
Tecnologia que gera respostas
A Fazenda Santana opera com um ecossistema digital integrado: agricultura de precisão, imagens NDVI, mapeamento de produtividade, estações meteorológicas locais e softwares com inteligência artificial para cruzar dados fenológicos, edáficos e climáticos. “A tecnologia nos ajuda a agir antes que o problema apareça visivelmente”, resume.
O que significa estruturar a planta?

Na prática, essa estruturação envolve atenção especial a: sistema radicular profundo e ramificado, para maior absorção de água e nutrientes; nódulos rosados e bem distribuídos, essenciais para uma boa fixação biológica de nitrogênio; caule grosso e firme, que aguenta o peso da produção e resiste ao acamamento; ramificações bem distribuídas e folhagem equilibrada, para máxima fotossíntese e interceptação de luz. “Tudo isso começa com uma semeadura bem feita, solo fértil e manejo nutricional adequado”, reforça o gerente.
Sinais de uma planta bem ou mal estruturada
Adriano compartilha que é fácil reconhecer no campo quando a planta foi bem conduzida: raízes profundas, entrenós bem distribuídos, folhas verdes e sadias, e grande número de vagens. Por outro lado, raízes curtas, caules finos, folhas amareladas e abortamento de flores são sinais de alerta que indicam que o teto produtivo está em risco.
A janela de ouro da soja: V0–V4
Segundo Adriano, os primeiros 20 a 30 dias após a emergência são determinantes. “Se perder essa janela, é muito difícil recuperar o potencial depois”, alerta. É nesse período que se define a base estrutural da planta. Por isso, a Fazenda Santana investe pesado em nutrição equilibrada, com foco especial em cálcio, fósforo, potássio, enxofre, boro e molibdênio. “Esses nutrientes constroem o esqueleto da planta”, resume.
Nutrientes + Genética = Potência
Com os avanços da genética, o papel do manejo ficou ainda mais crítico. “Genética moderna tem potencial enorme, mas exige precisão. Desde a escolha do híbrido certo para o ambiente, até a sincronização do ciclo com o clima”, orienta Adriano. Outros fatores-chave citados por ele: plantabilidade impecável: estande uniforme e profundidade correta; sanidade rigorosa: controle antecipado de pragas e doenças; uso de ferramentas digitais: NDVI, mapeamento de vigor e manejo em tempo real.
Estresse? Planta forte resiste mais
O estresse hídrico, térmico e biótico é inevitável — mas dá para minimizar. A chave, segundo Adriano, está em: raiz profunda desde cedo (solo corrigido gesso); nutrição balanceada e oportuna (foco em Ca, B, P e K); janela ideal de plantio; manejo preventivo de pragas e doenças; aplicação estratégica de bioestimulantes nas fases sensíveis (V4, R1, R3). “Eles não fazem milagre, mas ajudam muito quando usados com estratégia”, pontua.
Caso de sucesso: a safra que virou referência
Na última safra, a Fazenda Santana viu os frutos de uma estratégia bem aplicada. O plantio foi feito com alta precisão, em solo corrigido e preparado com antecedência. O manejo nutricional foi pontual e inteligente, e os controles fitossanitários evitaram perdas foliares. A lavoura contou ainda com mapeamento de vigor, NDVI e irrigação manejada. O resultado? Produtividade acima da média histórica, mesmo com períodos críticos de clima.

Práticas sustentáveis e impacto direto
A Fazenda também colhe frutos de um sistema mais equilibrado. Práticas como rotação de culturas, plantio direto, uso de biodefensivos e aplicação localizada ajudaram a reduzir custos, preservar o solo e aumentar a eficiência biológica. “Sustentabilidade não é discurso: é o que garante longevidade ao sistema produtivo”, ressalta o produtor.
Visão de futuro: Brasil na liderança
Paulo Stort acredita que o Brasil já é protagonista da sojicultura global — e pode mais. “Temos condições climáticas e de solo únicas. O que falta é profissionalização, gestão técnica e domínio do próprio sistema produtivo. O futuro é promissor, desde que invistamos em capacitação e tecnologia de forma inteligente.”
Para Adriano Leite, o maior erro ainda é subestimar a importância da estrutura vegetal. “Estrutura não é um detalhe — é o alicerce. Ignorar isso é como construir uma casa sem fundação: pode até ficar de pé, mas não aguenta pressão e nunca entrega seu potencial.”
A Fazenda Santana é um exemplo de que produtividade começa na raiz — e se sustenta no manejo técnico e na precisão.

