Afonso Peche Filho*
A restauração de ecossistemas degradados tornou-se um imperativo global, especialmente diante da crise climática, da perda acelerada da biodiversidade e da exaustão dos recursos naturais. Para enfrentar esse desafio, a ONU lançou a Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas (2021–2030), conhecida como UN Decade on Ecosystem Restoration, com o objetivo de prevenir, deter e reverter a degradação ambiental em todos os biomas. Dentro desse contexto, o manejo ecológico de ambientes produtivos desponta como um instrumento estratégico para atingir as metas propostas, transformando áreas agrícolas e paisagens produtivas em ecossistemas vivos, resilientes e regenerativos.
A Década da ONU defende a integração entre produção e conservação, estimulando práticas que restauram solos, águas e biodiversidade sem sacrificar a segurança alimentar e a economia rural. O manejo ecológico de ambientes produtivos se alinha diretamente a esse objetivo, pois busca ativar e regenerar funções ecológicas por meio de ações planejadas e integradas, tais como:
- Cobertura vegetal permanente, que mantém a capacidade produtiva, protege o solo e alimenta sua microbiota, sequestra e armazena o carbono.
- Diversificação e consórcios de culturas, que aumentam a biodiversidade funcional.
- Uso de bioinsumos, compostos orgânicos e remineralizadores, repondo a fertilidade natural do solo.
- Gestão hídrica conservacionista, com lavouras de nível, terraceamento, bacias de contenção e sistemas de infiltração.
Essas práticas são reconhecidas pela ONU como ferramentas-chave para transformar a agricultura em uma força positiva de regeneração, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e aumentando a capacidade dos solos de armazenar carbono.
A Década da Restauração enfatiza a biodiversidade como um pilar central para sistemas produtivos saudáveis. No manejo ecológico, a biodiversidade é incorporada à propriedade como infraestrutura ecológica: áreas de proteção, corredores de fauna, matas ciliares e zonas úmidas complementam as áreas produtivas, garantindo polinização, controle biológico de pragas e ciclagem eficiente de nutrientes.
Dessa forma, a propriedade deixa de ser apenas uma unidade de produção e passa a ser um ecossistema cultivado, onde cada elemento da paisagem (plantas, solos, fauna e recursos hídricos) contribui para a resiliência do sistema como um todo.
A UN Decade on Ecosystem Restoration prevê a recuperação de centenas de milhões de hectares de ecossistemas até 2030. O manejo ecológico, ao revitalizar áreas agrícolas degradadas, atua diretamente sobre os mesmos objetivos da ONU, favorecendo:
- Aumento da fertilidade e estrutura do solo.
- Recuperação de serviços ecossistêmicos (polinização, infiltração de água, regulação térmica).
- Conexão de fragmentos de vegetação natural, ampliando corredores ecológicos.
- Contribuição para metas de carbono neutro.
Experiências no Brasil, como sistemas agroflorestais, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto de hortaliças, frutas e grãos são exemplos práticos de como o manejo ecológico pode materializar os princípios da Década da Restauração, conciliando produção de alimentos, conservação da natureza e bem-estar das comunidades rurais.
Para que o manejo ecológico seja incorporado em larga escala, é necessário investimento em capacitação técnica, assistência rural e políticas públicas alinhadas à restauração. A ONU destaca que, além de ações isoladas, é essencial criar modelos econômicos e sociais que valorizem quem regenera a paisagem.
A mudança de paradigma, no entanto, já está em curso. A crescente demanda por alimentos produzidos com respeito ambiental, aliada a incentivos para práticas regenerativas, fortalece o manejo ecológico como estratégia de competitividade e resiliência.
A Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas não é apenas uma agenda política global, mas um chamado à ação para governos, produtores e sociedade. O manejo ecológico de ambientes produtivos representa uma das ferramentas mais eficazes para responder a esse desafio, pois transforma áreas degradadas em paisagens produtivas que conservam a vida.
Adotar o manejo ecológico significa alinhar produção e conservação, restaurando ecossistemas de forma prática e rentável. Ao se tornar parte das estratégias da Década da Restauração, essa abordagem mostra que o futuro da agricultura depende da capacidade de produzir em harmonia com os processos ecológicos.
* Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas.

Uma resposta
sugiro segmentar esses temas em palestras rapidas ( 5 a 6 minutos) no You tube, talvez seja, mais produtivo e educativo