A Hedgepoint Global Markets divulgou uma análise detalhada sobre o mercado de açúcar, considerando um cenário de menor disponibilidade de cana no Centro-Sul do Brasil. Após o último relatório da UNICA (Associação Brasileira da Indústria de Cana-de-Açúcar), a empresa ajustou suas projeções: revisão para baixo na estimativa de ATR (140,5 kg/t) e elevação no mix de açúcar para 51,2%. A produção geral foi mantida estável em cerca de 42,5 milhões de toneladas (Mt), o que permitiria exportar 33,6 Mt, com estoques equilibrados.
E se a moagem for menor?
O grande questionamento levantado pela Hedgepoint é: como o mercado reagiria a uma menor moagem de cana? A recente recuperação dos preços do açúcar bruto foi impulsionada pela divulgação dos dados da primeira quinzena de maio da UNICA, embora o relatório tenha sido considerado ambíguo, alimentando incertezas sobre a saúde da safra.
Segundo os dados, a moagem atingiu 42,3 Mt, superando a média dos últimos cinco anos (41,5 Mt), mas ainda inferior à safra 2024/25. O acumulado está em 76,7 Mt, quase 20 Mt abaixo dos 96,2 Mt registrados no mesmo período do ano passado.
Fatores críticos na safra atual
De acordo com Lívea Coda, Coordenadora de Inteligência de Mercado da Hedgepoint, dois pontos são fundamentais:
- Perda de dias úteis: a maior parte do atraso se deve à segunda quinzena de abril, período com o maior número de dias perdidos.
- Cana bisada: o início da safra 2024/25 foi impulsionado por uma quantidade excepcional de cana bisada da temporada anterior.
Apesar de o Açúcar Total Recuperável (ATR) estar cerca de 5% abaixo dos níveis do ano passado, o recorde no mix de açúcar (mais de 51%) ajudou a mitigar preocupações com a qualidade da cana.
“Embora os números de produtividade de abril sejam preocupantes, o relatório trouxe poucas informações novas. Por isso, aguardamos mais dados antes de qualquer revisão significativa nas estimativas de volume de cana”, afirma Lívea Coda.
Figura 1: Comparação da curva futura histórica do açúcar bruto (USc/lb)
Fonte: LSEG, Hedgepoint
Estimativas e possíveis revisões
Atualmente, a Hedgepoint mantém uma estimativa otimista de 620 Mt de cana para o Centro-Sul, sustentada pelo excelente Índice de Saúde da Vegetação. No entanto, a possibilidade de revisão para baixo não está descartada, especialmente caso a produtividade continue penalizada ou haja piora climática.
Na última semana, o risco de geadas trouxe alguma pressão altista aos preços, mas sem impacto significativo até o momento. A analista destaca que, para um planejamento eficiente, é essencial considerar como fluxos comerciais podem mudar com uma possível redução na oferta.
Figura 2: CS Índice estimado de saúde da vegetação
Fonte: NOAA, Hedgepoint
Impactos de uma moagem menor
Se o volume de cana for reduzido em 15 Mt — passando de 620 para 605 Mt —, a produção de açúcar cairia cerca de 1 Mt, afetando diretamente as exportações e reduzindo o superávit comercial em igual magnitude.
“Esse ajuste poderia reforçar uma narrativa mais altista para o mercado, fortalecendo contratos futuros, como o de março de 2026, embora o excedente previsto para o fim de 2025 seja suavizado”, destaca Lívea Coda.
No entanto, para que os preços retornem aos patamares máximos vistos entre 2022 e 2023, seria necessária uma perda muito mais acentuada na disponibilidade de cana — até 45 Mt a menos que a estimativa atual.
Expectativas e precauções
As discussões atuais indicam uma safra próxima a 600 Mt, o que ainda implicaria em excedente, limitando altas expressivas nos preços. Caso a demanda se mantenha aquecida, há possibilidade de os preços superarem 20 cents/libra-peso.
“Enquanto aguardamos novos dados, manter uma postura cautelosa é essencial para o gerenciamento de riscos. Além disso, acompanhar os desdobramentos no Hemisfério Norte será fundamental para o mercado de açúcar”, conclui Lívea.
Figura 3: Fluxos comerciais totais – Caso básico com 620 Mt de cana
Fonte: Green Pool, Hedgepoint
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