A alta do café no Brasil: entre a crise climática e decisões governamentais

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Paula Cristiane Oliveira Braz (*)

O café, uma das maiores riquezas do Brasil, enfrenta desafios preocupantes. O aumento significativo dos preços tem causas complexas, desde fatores climáticos extremos até decisões governamentais que prejudicaram a cadeia produtiva. A análise desses aspectos é fundamental para entender o cenário atual.

A crise climática tem provocado eventos severos nas regiões cafeeiras, especialmente em Minas Gerais e São Paulo, os principais estados produtores. De acordo com a Conab, a safra 2024/25 terá queda de aproximadamente 6,8% devido a secas prolongadas, geadas inesperadas e chuvas irregulares. A escassez hídrica prejudica a formação dos grãos, enquanto as geadas podem danificar de forma irreversível as plantas. A previsão atual aponta para 54,79 milhões de sacas de 60 kg, abaixo das 58,81 milhões esperadas.

Esses eventos climáticos comprometem a produtividade e a qualidade do café, elevando os custos de produção e pressionando os preços ao consumidor final. Além disso, a queda na qualidade dos grãos impacta negativamente a competitividade do café brasileiro no mercado internacional.

Além dos problemas climáticos, o fechamento de 27 armazéns da Conab em 2019, durante o governo anterior, intensificou as dificuldades do setor. Esses armazéns desempenhavam funções estratégicas, como a regulação de estoques, garantia de preços mínimos e suporte logístico para pequenos e médios produtores. Eles também eram importantes no combate à fome e na mitigação de crises ambientais.

Com a desativação dessa estrutura, o mercado cafeeiro perdeu um importante mecanismo de equilíbrio. Para se ter uma ideia, em 2013, o Brasil possuía 944 mil toneladas de arroz estocadas; em 2015, mais de 1 milhão de toneladas. Já em 2020, restaram apenas 22 toneladas, insuficientes para garantir sequer uma semana de consumo. Desde então, a situação se agravou, deixando o país sem estoques reguladores para contingências ou programas sociais.

A ausência dessa infraestrutura obrigou muitos agricultores a venderem suas safras rapidamente, muitas vezes a preços desfavoráveis. Sem acesso a armazéns públicos, ficaram sujeitos a práticas abusivas de grandes empresas e à volatilidade do mercado. Ainda assim, as exportações dispararam. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o Brasil enviou 50,5 milhões de sacas de 60 kg para o exterior em 2024, um aumento de 28,8% em relação a 2023.

Esse volume é quase equivalente ao produzido na safra atual. De acordo com Ferreira, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café, o país só não ficou sem café porque parte do que foi exportado veio de estoques com grãos de safras passadas. A alta do dólar também influenciou o mercado, com a saca subindo de cerca de R$ 900 em 2023 para R$ 2.300 em 2025, incentivando ainda mais as vendas externas.

Diante desse cenário, o Brasil precisa urgentemente retomar políticas públicas para fortalecer a cadeia cafeeira. Investir em pesquisa para soluções tecnológicas que mitiguem os efeitos climáticos é fundamental. Além disso, a reestruturação dos armazéns públicos poderia oferecer maior estabilidade ao setor, permitindo que produtores tenham segurança para negociar suas safras.

O café é parte fundamental da identidade e da economia brasileira. Preservar essa tradição e garantir a sustentabilidade do setor exige uma visão estratégica que contemple tanto as questões ambientais quanto o apoio governamental eficiente. Somente assim será possível superar os desafios impostos pela crise climática e reverter os impactos das decisões que desestruturaram o mercado.

(*) Paula Cristiane Oliveira Braz é Administradora, especialista em Agronegócios, tutora dos cursos de pós-graduação na área de Agronegócios do Centro Universitário Internacional UNINTER.   

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