
Edson Pereira Mota
Doutor e professor – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB) e Instituto Pecege
prof.edson.mota@faesb.edu.br
O Brasil é uma potência mundial na produção de soja e ocupa, há alguns anos, o primeiro lugar entre os maiores produtores (e exportadores) do grão. A cada safra os volumes produzidos de soja têm aumentado e, assim, consolidando o país nesse importante setor do agronegócio.
Porém, cabe destacar que a obtenção e manutenção desse título só foi possível devido a trabalho duro e constante no campo, onde informação, conhecimento e tecnologia são fundamentais a todo o sistema de produção da soja.
Para a obtenção de bons níveis de produtividade, é necessário que os fatores de produção sejam atendidos, ou seja, aspectos ligados a clima, solo, genética e zoneamento e injúrias como doenças, pragas e plantas daninhas devem ser acompanhados e bem manejados em todas as etapas do ciclo de produção da soja.
Todos esses fatores são importantes e limitantes à produtividade da soja, porém, o fator solo, dentre os controláveis, é o mais limitante.
Fertilidade do solo
O controle da fertilidade do solo é uma questão vital, onde o manejo nutricional para altas produtividades deve se atentar a cada elemento essencial, garantindo o máximo de expressão do potencial produtivo da planta.
Adicionalmente, solos brasileiros, como conhecido, são pobres nutricionalmente dada a sua origem e evolução, o que reforça ainda mais a necessidade de fornecimento de nutrientes para as plantas.
Importância do potássio
Dos nutrientes requeridos pela cultura da soja, o potássio (K) merece destaque, sendo o segundo nutriente mais exigido, ficando atrás apenas do nitrogênio (N). Em termos de extração de nutrientes, a planta de soja atinge valores de até 30 kg por tonelada de grãos, com 65% desse valor sendo exportado na colheita.
Tal nutriente, embora não faça parte de nenhum composto na planta, está envolvido e participa de uma série de processos metabólicos que garantem a produtividade.
O K tem uma série de funções nas plantas, mas, para o cultivo da soja, podemos focar em duas principais: eficiência do uso de água e síntese de proteínas.
Em relação à eficiência do uso de água, o K trabalha junto a turgidez das células e na abertura e fechamento dos estômatos, o que controla tanto o uso interno, quanto os reflexos externos na planta.
Ao considerar o cultivo da soja, onde há a fase de enchimento de grãos na fase reprodutiva, a necessidade de uso da água para o sucesso desse processo determina a qualidade dos grãos e os níveis de produtividade.
Além disso, considerando as condições climáticas adversas dos últimos três anos, onde as situações de estresse hídricos não são mais anormais (e sim rotineiras), o K vem a ser um forte aliado do produtor rural para transpassar mais esse desafio na rotina do campo.
Plantas que possuem maior eficiência no uso de água são mais resistentes a esse problema climático, uma vez que o fluxo de evapotranspiração é mais bem controlado.
Síntese de proteínas
Quando consideramos a síntese de proteínas, principal composto nutricional da soja, o K se envolve indiretamente por propiciar um ambiente sem restrições e equilibrado e, muito importante, ele possibilita o correto suprimento de aminoácidos para se juntarem em proteínas.
Em casos de deficiência de K, a quantidade de aminoácidos livres aumenta, fazendo com que sejam direcionados para outros processos metabólicos e, assim, a qualidade do produto é prejudicada.
Dada a importância do K, é necessário conhecer os níveis do solo, o que é possibilitado pela análise do solo, onde serão observados tanto os níveis de disponibilidade do elemento quanto o equilíbrio com os outros nutrientes, como o cálcio e o magnésio.
O que fazer quando da carência de K?
A deficiência de potássio apresenta sintomas visuais característicos, podendo ser observada clorose generalizada com necrose marginal nos bordos das folhas, com sintomas ocorrendo nas partes mais velhas da planta de soja (baixeiro), além dos problemas relacionados à baixa eficiência do uso de água, como menor turgor e baixa resistência à seca, que afeta a qualidade dos grãos.
Cabe ressaltar que, para a identificação da sintomatologia, além de considerar que o aparecimento dos sintomas seja generalizado (em toda a parte inferior da planta e em várias plantas no campo), a observação visual deve ser complementada por análise foliar para avaliação do estado nutricional.
Para evitar esses problemas, o fornecimento do K deve ser realizado com critério e acurácia, devendo seguir as identificações da análise de solo e orientações dos boletins de recomendação subsequentes, ou as adubações de manutenção, observando os dados de exportação da cultura junto às expectativas de produtividade desejadas.
Recomendação
A adubação potássica na soja possui uma larga faixa de recomendação, onde valores de 40 a até 160 kg/ha podem ser encontrados, mas por se tratar de um insumo com alto potencial salino, sua aplicação deve considerar os fatores solo e clima.
Em relação ao solo, a dinâmica de disponibilidade será afetada pela CTC, o que faz com que solos de baixa CTC, como os arenosos, necessitem de maior parcelamento da adubação, evitando altas concentrações na solução e salinização do ambiente radicular.
Considerando o clima, locais de alta incidência de chuvas também devem ser observados para a adubação com K na soja, já que é um produto que não tem forte fixação na CTC e pode ser lixiviado.
Cuidados essenciais
Para evitar problemas com a adubação potássica podem ser adotadas tecnologias agregadas, em que os fertilizantes com liberação controlada (FLC) podem ser aplicados, buscando recobrir os grânulos dos adubos potássicos para diminuir o fluxo de liberação do produto ao solo e, assim, minimizar os problemas, tanto de salinidade quanto de lixiviação.
Ao final, a “receita” para o K na soja é relativamente simples: analisar o ambiente de produção com foco no tipo de solo e clima local, verificar os níveis de disponibilidade desse elemento no solo e realizar o programa de adubação potássica de acordo com os dados.
Igualmente importante acompanhar o estado nutricional com o diagnóstico foliar e registrar os mapas de produtividade para composição do histórico da área, além do uso de tecnologia, quando disponível e confiável.
Todos esses aspectos que foram elencados (felizmente) já estão sendo operacionalizados pelos produtores rurais, caso contrário, nossa posição no ranking mundial de produção não seria mantida e superada a cada safra.
A questão, agora, é melhorar e continuar crescendo.