
Foto: Aline Massuca
A poluição plástica é uma crise global que exige ações urgentes e coordenadas. Em resposta a esse desafio, um tratado global de combate à poluição plástica está em negociação, com a última rodada de discussões programada para ocorrer entre 25 de novembro e 1 de dezembro na Coreia do Sul. O estudo Oportunidades na Transição para um Brasil Sem Plásticos Descartáveis, realizado a pedido das organizações Oceana e WWF-Brasil, aponta que a eliminação gradual de itens plásticos descartáveis pode reduzir drasticamente a poluição ambiental, ao mesmo tempo em que fortalece a economia do país. A pesquisa foi desenvolvida pela consultoria Systemiq e evidencia os efeitos socioeconômicos e ambientais da transição de plásticos descartáveis para materiais alternativos ou modelos de reuso.
A poluição plástica é a segunda maior ameaça ambiental ao planeta hoje, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Cientistas já identificaram a contaminação por microplásticos em diversos órgãos vitais humanos. O Brasil, maior produtor e poluidor de plástico da América Latina, produz anualmente cerca de 500 bilhões de itens plásticos descartáveis, dos quais 87% são embalagens e 13% utensílios descartáveis como talheres e sacolas. Apesar desses altos níveis de produção, os sistemas de gestão de resíduos permanecem inadequados. Como consequência, despejamos aproximadamente 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos a cada ano – o que representa cerca de 8% de todo o plástico que atinge os mares globalmente.
Diante desse cenário, é fundamental que o Brasil avance na implementação de soluções concretas para esta grave crise.
PRINCIPAIS CONCLUSÕES DO ESTUDO
Benefícios Ambientais
• Considerando a substituição de plásticos descartáveis por outros materiais como papel, vidro, alumínio e compostáveis, que também geram resíduos quando descartados, estima-se, ainda assim, uma redução líquida de 3,2 milhões de toneladas na geração de resíduos no período de 2025 a 2040. Esta redução, além potencialmente diminuir o gasto público com gestão de resíduos, evita que sejam emitidas 18 milhões de toneladas de CO₂ eq., o equivalente a retirar 3,9 milhões de carros de circulação por um ano.
• Durante esse período de 15 anos, projeta-se que a geração de resíduos de plásticos descartáveis diminua em 8,2 milhões de toneladas, assumindo que todo o volume produzido se tornaria resíduo devido à baixa reciclabilidade e à alta probabilidade de vazamento.
Transição Socioeconômica
• A eliminação dos descartáveis plásticos representa apenas 6,8% da produção nacional de plásticos transformados, e emprega entre 15.000 e 24.000 trabalhadores. Projeções indicam uma redução líquida de 13.000 empregos diretos até 2040, porém no cenário que considera também os empregos indiretos, o impacto final na economia seria de cerca de 1.000 postos de trabalho. Essa análise significa que a indústria de materiais alternativos e setores interligados a elas teriam capacidade de absorver grande parte da mão de obra.
Oportunidades Econômicas
• O aumento da demanda por materiais alternativos e produtos substitutos pode incrementar o valor econômico desse mercado em até 53% O valor potencial de mercado para os produtos substitutos alcança R$ 17,3 bilhões, um aumento líquido de R$ 6 bilhões.
• Com base no modelo econômico, a realocação da demanda de produtos plásticos para um cenário alternativo pode adicionar R$ 403,3 milhões ao Produto Interno Bruto (PIB).
“Com indústrias alternativas já consolidadas e algumas em ascensão, como produtos compostáveis e serviços de reuso, o Brasil está bem posicionado para realizar a transição para uma economia livre de plásticos descartáveis. O volume de produção é muito pequeno diante do impacto ambiental, social e econômico causado por esses itens, mas a transição é viável. Para isso, precisamos aprovar políticas públicas, como o Projeto de Lei 2524/2022, que abre novas oportunidades econômicas, com potencial para fortalecer modelos de negócios inovadores, explorar a bioeconomia e descarbonizar o setor”, pontua Lara Iwanicki, gerente sênior de advocacy da Oceana.
Em tramitação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal desde outubro de 2023, o Projeto de Lei 2524/2022 inclui disposições para eliminar gradualmente os plásticos descartáveis, com ênfase na transição para alternativas que sejam recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis. Essa abordagem visa reformular os padrões de produção e consumo no Brasil, adotando uma Economia Circular do Plástico, e evitando o descarte deste material na natureza.
A SOCIEDADE DEMANDA UMA TRANSIÇÃO
Uma pesquisa divulgada pelo WWF-Brasil em abril deste ano revelou que oito em cada dez pessoas em todo o mundo querem a proibição global de plásticos descartáveis. No Brasil, 85% dos entrevistados defendem regras que exijam a redução na produção mundial de plástico.
Os dados e as análises do estudo Oportunidades na Transição para um Brasil Sem Plásticos Descartáveis oferecem um cenário bastante positivo para que o governo brasileiro se posicione de modo assertivo na INC-5 – quinta e última reunião para a conclusão do Tratado Global Contra a Poluição Plástica, que acontecerá entre os dias 25 de novembro e 1º de dezembro, em Busan, na Coreia do Sul.
“Este estudo embasa a urgência de políticas públicas que promovam alternativas ao plástico descartável, ao mesmo tempo em que reforça a necessidade de apoio econômico a setores emergentes. O Brasil, no INC-5, pode impulsionar o debate com ações concretas e metas específicas, liderando nações em direção a uma Economia Circular”, afirma Michel Santos, gerente de Políticas Públicas do WWF-Brasil.
POLÍTICAS PÚBLICAS E INCENTIVOS ECONÔMICOS
Para garantir o sucesso da transição para um Brasil sem plásticos descartáveis e o potencial de mercado para os produtos sustentáveis, o estudo enfatiza a necessidade de apoio governamental e incentivos econômicos para materiais substitutos. Com suporte estratégico, pequenas e médias empresas poderão competir de forma equilibrada e expandir sua participação e competitividade no mercado, reforçando a viabilidade econômica das soluções sustentáveis e promovendo um futuro de baixo impacto ambiental.
“Nossa análise demonstra que a transição dos plásticos descartáveis no Brasil pode gerar ganhos ambientais e econômicos substanciais. Ao implementar uma estrutura robusta que promova materiais recicláveis, compostáveis ou reutilizáveis, o Brasil pode reduzir o desperdício e reduzir as emissões de CO₂ destes resíduos. Os dados mostram que tal mudança não é apenas alcançável, mas também economicamente viável, com potencial para criar novas oportunidades de mercado e apoiar o crescimento do emprego na indústria de materiais sustentáveis”, disse Matthias Becker, sócio da Systemiq. “Esta transição oferece ao Brasil a oportunidade de liderar a inovação sustentável, ao mesmo tempo que apoia os compromissos globais para reduzir a poluição por plásticos”, conclui ele.